O Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé será comemorado anualmente em 21 de março
Texto: Mariana Moura | Foto: Sakura
Sob terceiro mandato do presidente Lula, o governo federal sancionou a Lei Nº 14.519 que institui o Dia Nacional das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações do Candomblé. A sanção foi assinada pelo presidente Lula e pelas ministras da Cultura, Margareth Menezes, e da Igualdade Racial, Anielle Franco. A data será comemorada anualmente no dia 21 de março.
Adepta do Candomblé, a professora Mônica Carvalho (Iyá Jexaomim), diz que apesar de importante, esta lei é apenas o início de um processo de reparação e que é fundamental entender as raízes da nossa identidade como fundamento de uma grande herança.
De acordo com ela, que é Egbome do Ilé Axé Nitó do Xoroqué, “nós tivemos um processo de embranquecimento dos fundamentos religiosos das tradições de matrizes africanas desde a sistematização da religiosidade a partir de meados de 1800 e isso deriva de uma necessidade de negociação para a própria continuidade”. Além disso, ela entende que há uma deficiência no entendimento do que realmente é a cultura africana para além da religiosidade, pois “existe um processo de apropriação cultural muito grande dentro desse meio e isso é um déficit para a cultura da matriz africana”.
Para a pesquisadora, Especialista em Gênero e Diversidade na Escola e Mestra em Sociologia, “essa lei representa um importante marco inicial até para discutir a questão da laicidade do estado, que faz com que a população de matriz africana continue sendo invisibilizada socialmente” e que se trata apenas de “uma data de religioso para religioso” e não para a população em geral.
Professora da Especialização de História de Alagoas- IFAL, Mônica afirma que esse é um “problema político, é uma questão de preservação de poder e que se não houver ação política, tudo fica perdido e essa lei vai ficar inerte”. Portanto, ela afirma que “é preciso comprometimento da educação, da saúde, da assistência social, da segurança pública e dos direitos humanos”.
Apesar disso, ela diz que a estratégia está correta e que festeja essa lei como um importante marco inicial, mas que a primeira ação a ser trabalhada é a educação: “nosso povo não consegue estar no ambiente escolar, na formação básica pq não existe positivamente na história. Somos sempre algo a ser combatido e a visão sobre nós é muito folclorizada”.
Mônica ressalta que “se Lula não tivesse sido eleito, estaríamos no alvo de uma pauta de costumes num processo de demonização amplificado”.