Certa vez, a raposa ensinou ao Pequeno Príncipe que “só se vê bem com o coração” porque “o essencial é invisível aos olhos” (Antoine de Saint-Exupéry, 1943). E não há nada de romântico nessa proposição, uma vez que o entendimento dialético demonstra que as contradições não estão na aparência das coisas e sim, na sua essência.
Na contemporaneidade do mundo capitalista, para o qual os indivíduos não estão emocionalmente preparados, a liquidez das relações, das instituições, do medo e do amor (Zygmunt Bauman, 2000, 2003, 2006) é a constante das sociedades cansadas (Byung-Chul Han, 2015) costuradas por uma incansável guerra híbrida que se apossa cada vez mais da espiritualidade do povo.
A centralidade de uma agenda como ponto de unidade para a compreensão da dialética das coisas, perdeu-se (e não é historicamente recente) como princípio seguro para nortear as pautas mais importantes e urgentes a fim de dirigir condutas e direcionar ações para libertar mentes e espiritualizar as almas brasileiras rumo à construção de uma Nação soberana e de uma gente orgulhosa de sua história e da sua própria natureza constituinte.
Faz-se urgente entender o momento vivido pelo Brasil entendendo a vida de dois campos que reúnem diversos movimentos. Para além de discutir a imoralidade de perseguir religiosos, questionar autoridades, desacreditar instituições, desrespeitar vidas, ignorar direitos e violentar a segurança física e alimentar, é crucial observar como estão constituídos os campos e compreender que as alternativas serão dadas apenas através da força da democracia e não do privilégio da coerção.
Na superfície que alcançamos, a linguagem do discurso é a corrente que nos puxa para dentro da estrutura e está bem óbvio, através das palavras e dos conteúdos, o que tem se construído como prioridade para os dois campos antagônicos que se declaram inimigos irretratavelmente mortais.
Entre o discurso da violência física e moral que desconhece e ignora consequências legais, espirituais e históricas para os registros emocionais e historiográficos dos brasileiros e o discurso que reúne um vasto campo (congregando adversários históricos e não inimizade bárbara) investindo na linguagem que prioriza palavra e sentido pela democracia e pelo diálogo amplo com setores diversos, o amor tem sido o sentimento mais óbvio para fazer sentir a histeria do momento.
Destaco, além de outras grandes contribuições, os discursos da Simone Tebet, quem defendeu seu posicionamento nessa disputa pelo segundo turno, usando o “amor pelo Brasil” como o ponto unificador pela sua colocação ao lado da única candidatura que usa as mãos unidas para formar um coração e não mirando nos rostos de seus adversários em sinal de revólver, demonstrando a violenta delinquência na qual está fundamentada a intolerância pelo diálogo democrático.
Qual a natureza do seu discurso? O amor, é óbvio.
