A pandemia da Covid-19 deixa um país arrasado, com mais de 600 mil vidas perdidas, famílias destruídas, verdadeira tragédia em diversas dimensões, com consequências que serão sentidas por um longo período. A CPI da Covid-19 no Senado, com seu relatório em discussão, demonstrou cabalmente a responsabilidade e os crimes cometidos pelo governo Bolsonaro que impulsionou a propagação do vírus.
Enquanto o centro do debate mundo afora são projetos estratégicos para retomada econômica, com volumosos investimentos públicos, o Brasil se perde em negacionismo e miopia fiscal. A política econômica do governo e a ausência de qualquer sentido de projeto de país, impossibilita que o Brasil se insira na retomada econômica, exceto como exportador de commodities.
Maior exemplo da ausência de qualquer visão estratégica sobre o país é a ação do governo que poderá ser a mais significativa no próximo período: o Auxílio Brasil. Trata-se de medida extremamente necessária para garantia mínima de renda para população e que pode contribuir muito para economia se for articulada com um projeto mais amplo. Entretanto, o programa é fruto e encarado pelo próprio governo como mera estratégia eleitoral, decorrente do derretimento do presidente nas pesquisas e está envolto em polêmicas, improvisos e confusões que são a própria marca do governo Bolsonaro.
Mesmo o aumento dos preços das commodities não tem refletido melhora da situação econômica do país, uma vez que não há ação coordenada, o crescimento que daí decorre não inclui as amplas maiorias da população. Toda a lógica do governo serve à ilusão de que a estabilidade fiscal e ancoragem das expectativas dos agentes trará investimento e crescimento. Mas, ainda que tais mitos se tornassem realidade, como pode haver estabilidade em uma economia que está em estagflação e tem um tresloucado na presidência?
Na verdade, ocorre que o governo Bolsonaro é uma expressão tosca da real visão do status quo dominante no país, na qual as grandes maiorias servem para manutenção do nível de riqueza de poucos. Não por acaso, enquanto o Brasil afunda em crise, com desemprego oficial atingindo mais de 14 milhões de trabalhadores, maior índice de inflação das últimas décadas e cenas de miséria e fome se espalhando pelo país, os bancos registram lucro de R$ 62 bilhões só no primeiro semestre do ano.
O ideário de crescimento econômico e de país do governo é permeado da lógica perversa que aprofunda as desigualdades, onde não há espaço para inclusão e a cidadania é negada nas formas mais básicas, quando se nega o emprego, a comida, a educação, a dignidade humana e até o direito à vida. Para alguns poucos, “tudo vai bem, tudo legal” como no samba do Gonzaguinha.
Ótimo Texto! Parabéns Nal!!