Longe de ser criação da Modernidade, a fofoca faz parte da cultura humana de impor narrativas subjetivas na própria história. Hoje, entretanto, com o dinamismo das redes sociais, a fofoca é capaz de consolidar o efeito distorcedor da própria verdade e tão fluido esse comportamento que uma única pessoa pode dizer e se desdizer em frações de minutos como se isso não gerasse impacto algum e como se ainda pudesse continuar agindo como o dono da bola.
São muitas as contradições do senador Marcos do Val, no entanto, mesmo a sua primeira versão já sinalizou seu nível de malandra-covardia, um caso típico de pessoas que têm a capacidade de gerar desconfiança na “nobreza” da sua história mal contada, ou melhor, fofoca. Iniciou-se acusando diretamente o ex-presidente Bolsonaro de um crime, depois o “desacusou” lançando na fogueira o ex-deputado Daniel Silveira. Disse ter sido coagido por sua “relação” com o Ministro, coisa que “não consta nos autos” e que renunciaria porque não se permitiria continuar ocupando o pleito. Depois desdisse tudo o que disse como se tivesse simplesmente desistido de ter colocado a porção de frango no prato e também teve a ousadia de dizer de si mesmo que estava alterado e que não vai renunciar mais ao seu caro mandato.
Esse nó está enrolado, mas quem cresceu vendo a avó tecendo toalhas de mesa sabe que a primeira coisa a se fazer é puxar o primeiro fio. Na análise do discurso e na metodologia histórica quando surgem diversas versões do mesmo acontecimento, é preciso compará-las a fim de encontrar os elementos comuns a todos eles e aprender a decodificar as armadilhas.
Apesar da ladainha desse disse-me disse, o que há em comum nas versões do próprio do Val é que o ex-deputado chegou até ele num carro oficial da presidência e o levou até o ex-presidente para uma conversa que não constou na agenda oficial.
Se o carro não foi identificado no serviço de segurança, se o conteúdo da reunião não foi informado à época, isso demonstra que para além do sentimento de impunidade, gestava-se também o clima de “after” de bar entre a turma da mesa e mostra também que em todas as versões, o personagem do principal posto à época ainda não emitiu sequer um posicionamento sobre seu comportamento irresponsável.
Nada disso é mera coincidência com a tal “minuta do golpe” encontrada na casa do ex-ministro Anderson Torres. Mas é tanta ladainha para tão pouco barulho que a garantia de que “tudo se ilumina” parece ser coisa de criança.